ALMAS DE MAR, MARÉS DE SAL

 

          Às vezes o tempo voa e não para, outras, parece que chega e não parte, permanecendo omnipresente, algures perdido nas memórias onde o passado não existe e o futuro não acontece.

 

          Nesta vida, onde as almas se juntam aos corpos na sua caminhada cíclica de evolução, tudo é efémero e nada mais prevalece para além da aprendizagem dessa caminhada. Como diz o poeta “Caminhante não há caminho se faz caminho a andar” e, essa caminhada cíclica deve obrigar-nos a beber na reflexão, compreendendo melhor a singularidade e o valor de cada coisa viva e como cada uma depende das outras.

 

          Por vezes, é preciso saber perder para ganhar, é preciso perseguir os sonhos e nãos os deixar viver sozinhos, é preciso partir e iniciar uma demanda por novos rumos e horizontes, navegando com o vento da saudade, vendo em cada estrela um rosto amigo e no astrolábio da memória o sorriso de quem gostamos preso na nossa boca.

 

          O tempo, esse é que não para, viajamos com nele, segurando o leme por entre as marés da vida, construindo uma personagem melhor ou pior, moldada pelas diversas experiencias que nos fazem crescer, rir, chorar, gritar, emergindo a dor e o grito de revolta, por aqueles que partem antes e deveriam partir depois.

 

          Por vezes a nau desce ao inferno, velejando nas agruras desse mar tenebroso, respirando o calor abrasador dos próprios erros que fustiga o cabo do inferno. A dobragem pode ser dolorosa, intemporal e incompatível com a ampulheta que norteia a brevidade do nosso tempo de vida, chegando a gadanha que ceifa o fio que nos liga ao barco que nos transporta nesta passagem.

 

          Almas de Mar, Marés de Sal, são fragmentos de uma caminhada. Expressam sentimentos, momentos, perdas, amor, solidão, saudade, revolta e capacidade de luta, trazidos à colação pelo sal da vida que os ciclos do tempo decantam, forjando a esperança e o querer de um amanhã diferente de um amanhã melhor.

 

 

 


João Murty poeta e escritor de Lagos