( Entrevista dada ao Jornal Correio de Lagos)

 

José João Murtinheira do jovem talento no futebol, a uma carreira brilhante na hotelaria , Murtinheira revela também “ veia literária” e é  o nosso primeiro convidado no espaço  “Livros em Movimento”.  José João Murtinheira Branco nasceu em Lagos, no dia 27 de Janeiro de 1954, casado e com um filho, reside em Vila Franca de Xira. Partiu cedo para outras paragens, onde aliou o trabalho ao estudo, consciente que estes são as asas que facilitam a evolução do ser. Graduou-se em “Direção Hoteleira” - Escola do Estoril, tendo concluído a Pós – Graduação em “Gestão Integrada” - Universidade Internacional de Lisboa Complementou a sua formação, com algumas especializações em gestão e em “Food And Beverage Management” ministradas pela Cornell University. O lado humano das coisas, a solidariedade e a justiça, levaram-no a abraçar com coragem e inconformismo, alguns projetos difíceis. No período de 1993 a 1998, na qualidade de diretor geral de operações, teve intervenção relevante no processo de recuperação e viabilidade do grupo Torralta – CIF que veio a ser adquirido pelo grupo SONAE. Ao longo da sua atividade profissional integrou o concelho fiscal de várias empresas e exerceu cargos de direção e administração em hotéis e grupos turísticos-hoteleiros. Em 1997, numa singela manifestação de agradecimento foi agraciado pela casa do pessoal do hospital de Vila Franca de Xira. Em março de 2010 foi homenageado pela ADHP «Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal», com a Placa Carreira, distinguindo o profissionalismo colocado ao serviço da indústria turístico - hoteleira.

 

QUANDO É QUE SENTIU DESABROCHAR  ESSA "VEIA LITERÁRIA" ?...  Já tinha escrito algumas sebentas técnicas e outras matérias específicas (manuais de procedimentos), para empresas. Mas a veia literária emerge após a minha 2ª operação, a qual não correu bem. Seguiu-se um período bastante complicado, bati no fundo e reergui-me. Paradoxalmente a minha formação é em ciências exatas mas o meu 1º livro “Almas de Mar, Marés de Sal” é um livro de poesia.

 

QUANTAS E QUAIS AS OBRAS JÁ LANÇADAS, ATÉ AGOSTO DE 2015 ? ... Ao nível de coletâneas sou coautor, participei com 12 poemas “Essência do Amor" Volumes - I , II , III”- Edições Vieira da Silva e coautor das Antologias de Poesia Contemporânea “Entre o Sono e Sonho” - Volume V e VI - Chiado Editora. No que concerne a obras editadas, tenho 6. Quatro são de poesia e duas são romances de ficção. Através do meu site cujo endereço é: http://i-m.mx/opoetadelagos/opoetadelagos/ poderão consultar livros, projetos e outras informações inerentes à atividade literária

 

QUAL O GÉNERO LITERÁRIO QUE MAIS APRECIA E QUE LIVRO LHE DEU MAIS PRAZER?  .... Aprecio romances de ficção e gosto muito de poesia. A literatura é o meu casulo e a poesia a minha liberdade. Quando necessito de estar só refugio-me na poesia. Em cada poema que escrevo ausento-me e saio por aí à procura de quem não sou para de novo me encontrar. Houve um livro que me marcou muito. Tinha os meus 18 anitos quando li “Um Estranho Numa Terra Estranha” do autor Roberto A. Heilein a obra foi adotada como uma das bandeiras do movimento Beatnik, a personagem encaixava-se perfeitamente nos seus conceitos libertários e liberais, anarquistas e socializantes, essa amálgama incrível que tinha por lema o célebre don't war, make love e que, de certo modo, viria a expressar-se como oposição à guerra no Vietnam.

 

 EM 2014 ESTEVE PRESENTE NA MOSTRA DE ESCRITORES E AUTORES LACOBRIGENSES. COMO SE SENTIU NESTE EVENTO REALIZADO NA SUA TERRA ?....Alguém disse «incentivar a leitura é a forma mais eficaz de disseminar cultura e valores, incitar a imaginação e despertar a criatividade». Esta foi uma boa iniciativa que gente boa e dinâmica soube colocar de pé. É através da cultura que conseguimos reunir todos os avanços e conquistas, misturá-las com os sonhos e esperanças para caminhar rumo ao futuro. Como tudo na vida necessita de maturação para crescer e o crescimento alimenta-se do interesse e da participação, por isso fiz um esforço para estar presente no evento dando o meu humilde e insignificante contributo. Senti-me muito bem, porque me proporcionou rever alguns companheiros de infância. 

 

JÁ PARTICIPOU EM FEIRAS DO LIVRO OU NOUTROS CERTAMES DE OBRAS LITERÁRIAS ? ... Sempre que me é possível e a vida me permite, gosto de participar e colaborar pois deve haver grande cumplicidade entre os autores e as editoras. Em Abril estive em Lagos no “III Encontro de Escritores do Algarve”, foi mais um convívio do que um evento de promoção e vendas de livros. Estive em Junho na “Feira do Livro de Lisboa” no stand da Vieira da Silva a convite da editora para uma sessão de autógrafos das obras “A Essência do Amor”

 

HÁ MAIS OBRAS NA FORJA PARA BREVE ?... Presentemente tenho uma obra a concorrer ao “Prémio Literário Alves Redol” na modalidade de conto. Por exigência do regulamento a mesma não pode ser editada até 31 de Dezembro, data limite de análise das obras em concurso. Em final de Outubro, deverá ser editado um romance de ficção “Os Profanos do Tempo” .

 

 

QUE LIVRO TEM ACTUALMENTE À CABECEIRA E QUAIS OS SEUS ESCRITORES DE REFERÊNCIA ?... Estou lendo “Um Escritor Confessa-se” de Aquilino Ribeiro, o cronista que genialmente eternizou os últimos anos da civilização rústica em Portugal. Gosto muito de ler! Eça, Dantas, Pessoa, Florbela, Mário Sá Carneiro, Camões, Poe, Quintana, Neruda, José Echegaray, Homero, Roberto Heilein, são autores que me marcam.

 

PARA QUANDO O REGRESSO DEFINITIVO DO “MURTY” À CIDADE DOS DESCOBRIMENTOS ? ...  Costumo dizer que Lagos é a cidade do meu coração e Toledo a cidade da minha paixão. Se tudo correr normalmente serão mais alguns anos fora e depois regressarei definitivamente à terra que me viu nascer.

 

ALGUM DIA SONHOU SER JOGADOR DE FUTEBOL PROFISSIONAL ? ... É uma boa questão que me coloca. Quando somos novos o sonho comanda a vida, e a mudança da minha está ligada ao futebol. Recordo que tinha acabado a escola o curso industrial e andava à procura de trabalho. Era júnior no Esperança e na altura havia na direção dois irmãos (um se a memória não me falha trabalhava nas finanças), eram pessoas excelentes, muito humanas e com grande dedicação ao clube. Um deles veio ter comigo e disse; assinas o contrato e começas a trabalhar na secretaria do clube. Assim foi, assinei por dois anos. Passado um ano de lá estar, tive um convite da Torralta através do Francisco Teixeira da Encarnação (Chico Pank), para jogar no Grupo Desportivo. As condições eram melhores, incluíam emprego o que era bastante aliciante em termos de perspetivas futuras, porque a Torralta era um dos maiores grupos do País com ativos em Bragança, Serra da Estrela, Lisboa, Troia, Alentejo e Algarve e a que tinha mais know-how na área turística-hoteleira. Aceitei a proposta e comecei de imediato a trabalhar nos escritórios, no setor do controlo hoteleiro com o meu falecido amigo Rodrigo de Almeida. Todavia estive sem jogar um ano, dado que, contratualmente estava vinculado ao Esperança de Lagos. Respondendo à pergunta, na realidade nunca sonhei ser jogador profissional. Mas foi o futebol que proporcionou a minha ida para a Torralta e daí seguiu-se tudo o resto, fruto do livre-arbítrio, da persistência, dos bons mestres e da humildade para aprender.

 

 

 

 

 


João Murty poeta e escritor de Lagos